quarta-feira, 12 de janeiro de 2011



A importância da disciplina


Alguém se lembra do filme “Esqueceram de mim”? Nele, um garoto, por volta de 8 anos, é esquecido pelos pais quando estes viajam de férias. Sozinho em casa, a primeira reação do menino é realizar desejos não possíveis quando tem pais para controlá-lo: pular na cama destes, ver filmes impróprios para sua idade e comer só o que mais gosta.
Esse filme nos mostra que uma criança, aos 8 anos, ainda procura a satisfação imediata de suas necessidades e um dos objetivos da educação, a ser alcançado a longo prazo, com avanços e recuos constantes, é ensinar os filhos a ter disciplina.
Isso significa, basicamente, orientar os filhos para que hajam de maneira aceitável e aprendam a conviver com regras e limites. Pode ser, quando são pequenos, conseguir que tenham uma rotina para fazer suas refeições, tomar banho, dormir, sem muitas confusões e postergações. Quando são maiores, que façam adequadamente suas lições, sejam suficientemente educados, aprendam a cumprimentar as pessoas, agradecer um presente. Quando entram na adolescência, que saibam aceitar horários para chegar em casa, tenham responsabilidade e autonomia com suas tarefas escolares.
Esses são exemplos, pois os limites variam muito em função do que é esperado numa determinada cultura ou família. No entanto, todo lar deve ter seus regulamentos, que devem ser respeitados e aplicados coerentemente e de comum acordo pelos pais.
Aquilo que a princípio é imposto, pois parte de uma necessidade de ordem que a criança ainda não tem, deve se transformar com o tempo em auto-disciplina, aprendizado fundamental na vida. A criança não tem noção clara de tempo, portanto os pais precisam ensiná-la que é preciso postergar prazeres ou mesmo renunciar a eles, seja para obter benefícios mais tarde, evitar desprazeres futuros, ou mesmo para poder viver em sociedade.
Se como doces e não escovo os dentes posso ter cáries,se me esforço na escola posso fazer um bom trabalho, o que me deixará feliz, se não me esforço posso ter que estudar nas férias.
Além de ensiná-la a cuidar de si mesma, é fundamental ensiná-la a respeitar os outros. A idéia de que a criança é a primeira e a única é uma terrível ilusão. Ela precisa aprender que existem outras pessoas no mundo com interesses e necessidades próprias, e, se desrespeita os outros, pode se tornar uma pessoa desagradável, que ninguém quer ter por perto. Se aprende a ser educada e gentil, os outros também vão lhe ouvir com mais atenção.
A criança dá um passo muito importante em seu desenvolvimento quando deixa de se achar o centro do universo e se torna capaz de ter interesse pelos outros e respeitar seus limites.
Tudo isso é um aprendizado longo e sofrido, no qual os pais tem papel fundamental. É preciso ensinar aos filhos que viver é tolerar a espera, aceitar frustrações, reprimir impulsos, respeitar o espaço alheio.
Alguém que foi poupado pelos pais de se frustrar, de aceitar a renúncia e a necessidade do esforço contínuo para obter realizações e viver em sociedade, irá tornar-se um adulto que terá muita dificuldade de viver no mundo real. Poderá achá-lo excessivamente difícil e entediante. Poderá desistir na primeira dificuldade que encontre quando tiver que resolver problemas no trabalho ou no casamento.
Pode se tornar um adulto eternamente infantil, dependente de outros adultos a vida toda.
Por isso é necessário ensinar a criança, desde que ela é pequena, a limitar suas ações e ter disciplina.
E como se consegue isso?
Bem pouco é obtido com castigos e punições, embora às vezes sejam necessários. Uma posição firme dos pais é sempre necessária, pois se é função dos pais disciplinar os filhos, faz parte do desenvolvimento das crianças contestar normas e regras. Os pais têm que procurar ser firmes em seus propósitos de disciplina, apesar do cansaço e das contestações dos filhos.
No entanto, como em tudo que se refere à educação dos filhos, a atitude dos pais em geral, na vida, é mais importante do que aquilo que eles de fato se propõe a dizer ou fazer com os filhos.
Isso nos leva à questão da importância dos pais como modelos. Dentro do mundo interno da criança, os pais existem como ela os vê, e seu desenvolvimento é baseado nesse modelo. Não se trata simplesmente de copiar os pais. A criança absorve o modo de viver deles. Os filhos querem ser parecidos com os pais, para serem admirados e amados por eles. Portanto, é necessário que estes hajam sempre como o tipo de pessoa que gostariam que o filho fosse.
Os pais muitas vezes querem que os filhos aprendam conceitos que eles na prática não exercem. Alguns exemplos disso:
Querem que os filhos aprendam a respeitar os outros quando, na pressa de deixar os filhos na escola, param em fila dupla ao invés de aguardar sua vez na fila, deixando os filhos em situação de perigo e passando na frente dos outros.
Perdem o controle e xingam quando outro motorista comete alguma falta.
Usam o celular em qualquer hora ou lugar, muitas vezes obrigando os outros a ouvir suas conversas.
Não conseguem levar adiante seus planos e decisões.
Para educar é preciso de fato crer no que se educa e ter para si os mesmos valores e parâmetros.
É um trabalho de auto-observação constante, onde a coerência tem que ser sempre procurada.
Aprender a ter disciplina é aprender conceitos morais indispensáveis para ter um bom-caráter.
Em contraste com o bom comportamento simplesmente conformista, ter bom-caráter significa respeitar a si mesmo e aos outros. Essa característica não se manifesta repentinamente, mas se desenvolve no decorrer dos anos, na criança que é ajudada a lidar com seus impulsos, à qual se ensina o que é certo e errado, baseado na consideração pelas pessoas e por si mesma.

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